A Transição Energética como Motor de Crescimento Económico e Criação de Emprego em Portugal
A transição energética deixou de ser apenas uma resposta às urgências climáticas para se afirmar como um dos principais motores de crescimento económico e inovação em Portugal. Longe de constituir um custo inevitável, esta transformação estrutural do modelo energético representa uma oportunidade estratégica sem precedentes para impulsionar a competitividade, atrair investimento e gerar emprego qualificado.
Estimativas recentes da consultora McKinsey indicam que a transição energética poderá contribuir com um acréscimo de 10% a 20% no PIB ibérico até 2030, com Portugal a beneficiar de forma significativa deste impulso. Paralelamente, prevê-se a criação de milhões de “empregos verdes” na Península Ibérica, desde a fabricação de equipamentos renováveis até à instalação, operação e manutenção de infraestruturas limpas.
O potencial económico da descarbonização assenta na sua natureza transversal. A transição energética não se limita ao setor elétrico ou às energias renováveis em sentido estrito; estende-se a praticamente todos os setores da economia, criando cadeias de valor complexas e interligadas. No caso português, destacam-se áreas com elevado potencial de crescimento: a produção de veículos elétricos e baterias — beneficiando das reservas nacionais de lítio, metal vital para a mobilidade elétrica —, a indústria pesada descarbonizada (como o cimento, o aço ou os produtos químicos), a eficiência energética nos edifícios, a construção sustentável e neutra em carbono, a eletrólise para produção de hidrogénio verde e o autoconsumo energético por parte de empresas e cidadãos.
Um exemplo emblemático é o emergente ecossistema do hidrogénio verde. Portugal, com a sua abundância de recursos solares e eólicos, está bem posicionado para se tornar um exportador líquido desta energia limpa. Projetos-piloto já em curso — como os do Porto de Sines ou da região de Aveiro — não só atraem investimento internacional, como criam empregos altamente qualificados em engenharia, logística e operação industrial. Estes projetos exigem competências técnicas avançadas, mas também geram oportunidades indiretas em setores como a construção, os serviços e a formação profissional.
De igual modo, a eletrificação da mobilidade está a transformar profundamente a indústria automóvel nacional. Com o encerramento progressivo da produção de motores de combustão, surgem novas unidades industriais dedicadas a componentes elétricos, baterias e sistemas de carregamento. Estas atividades exigem uma força de trabalho renovada, com formação em eletrónica, automação e sustentabilidade — um desafio, mas também uma oportunidade para requalificar trabalhadores e atrair jovens para carreiras tecnológicas.
Além disso, a geração distribuída de energia, impulsionada pelo autoconsumo fotovoltaico, está a democratizar o acesso à energia e a criar um novo mercado de serviços. Pequenas e médias empresas especializadas em instalação de painéis solares, gestão de sistemas de armazenamento ou consultoria energética estão a proliferar por todo o país, gerando emprego local e estimulando a economia regional. Estima-se que, só no setor solar, Portugal possa criar dezenas de milhares de postos de trabalho até 2030, muitos deles em zonas rurais ou de baixa densidade populacional.
Importa ainda sublinhar que a transição energética não é apenas uma questão de infraestruturas, mas também de inovação, digitalização e qualificação. A integração de redes inteligentes, a gestão da procura energética e a otimização do uso de recursos exigem competências digitais avançadas, criando sinergias com o setor das tecnologias de informação. Portugal tem aqui uma janela de oportunidade para se posicionar como um hub ibérico de soluções “cleantech” — tecnologias limpas —, aproveitando o seu capital humano e a sua localização estratégica.
Contudo, para que este potencial se concretize plenamente, é essencial um enquadramento político estável, incentivos fiscais adequados e uma forte aposta na formação profissional. A transição justa exige políticas ativas de emprego que apoiem os trabalhadores em setores em declínio, garantindo que ninguém fique para trás. A colaboração entre o Estado, as empresas, as instituições de ensino e os parceiros sociais será determinante para alinhar competências com as necessidades do mercado emergente.
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